A CAIXA DE WARD

história

O historiador Luke Keogh investigou em detalhe a caixa de Ward, pois este objeto tornou-se numa ferramenta comum, não apenas para transportar curiosidades botânicas, mas também para transportarplantas agrícolas e industriais (incluindo chá, Camellia sinensis e borracha, Hevea brasiliensis) que suportaram os esforços de construção do império ocidental.

As implicações da caixa de Ward não ficam por aí, pois como continham solo, com as plantas eram invariavelmente transportados insetos, microrganismos, e outros, muitos deles patogénicos – nas palavras de Luke Keogh “Movimentar plantas era mover ecossistemas”, uma revolução global que continua no mundo pós-wardiano e que provocou efeitos dramáticos. Alguns desses organismos recém-chegados mostraram- se devastadores, incluindo a ferrugem do café (Hemileia vastatrix), que irrompeu no Ceilão (atual Sri Lanka), em 1869 e, posteriormente, dizimou plantações em muitas regiões cafeeiras do planeta

Keogh cita um estudo sugerindo que aproximadamente nove em cada dez pragas de invertebrados no Reino Unido chegaram em plantas vivas (Keogh, 2019).

Caixa de Ward nos Royal Botanic Gardens, Kew (ca.1890).

Nesta perspetiva, a caixa de Ward foi uma ferramenta importante para esta dramática remistura biótica. Não só a circulação de organismos biológicos continua até hoje, mas começou muito antes da invenção de Nathaniel Ward. Uma das últimas vezes em que a caixa de Ward foi usada foi em 1962, quando uma seleção de plantas ornamentais de Fiji foi enviada para os Jardins de Kew em Londres. Nessa época, novas regras de quarentena de plantas restringiam o movimento de plantas como forma de limitar a propagação de doenças e pragas de plantas.

Com os novos regulamentos e a proeminência das viagens aéreas, esta tecnologia tornou-se obsoleta.

Hoje, sabe-se que existem 19 caixas de Ward originais (8 nos Jardins Botânicos de Kew) que foram usadas para envios em todo o mundo (Keogh, 2019&2020). 

No que se refere ao caso português, a Caixa de Ward / Wardian Case tem tradução para “estufim” (Henriques, 1884) ou “caixão de Ward” ou “estufa de viagem” (Goeze, 1870). A partir do desenho de Goeze, podemos supor que o Jardim Botânico de Coimbra dispôs deste objeto, talvez feito na instituição ou comprado e depois gravado com as insígnias do Jardim (os vasos também eram gravados desta forma).

Estufim é um termo mais ambíguo porque designa também uma pequena estufa, uma redoma, uma espécie de veículo puxado a cavalo, entre outras. Grande parte das referências à palavra estufim e caixa de Ward provêm dos esforços de disseminação da cultura da quina nas ex-colónias portuguesas ou do cacau por diferentes atores e ao longo de várias dezenas de anos (Macedo, 2016).

2024 © W.BOX.PROJECT. Todos os direitos reservados.
O W.Box.Project é financiado pela FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia, I.P sob a referência LA/P/0132/2020 (DOI10.54499/LA/P/0132/2020)
Design by Rute Marques